quarta-feira, 30 de abril de 2008

O Louco de Asas Azuis

- Cuidado com o louco de asas azuis! Foi ele que me deixou assim: o louco de asas azuis!

Eu já havia sido abordado por bêbados em bares, mas nunca nenhum me deixara tão intrigado. Continuei pensando nele enquanto dirigia para casa. Quando cheguei, o porteiro me entregou uma carta. Não havia endereço. Fora entregue em mãos. Abri no elevador. Um desenho de criança - ou bêbado - acompanhava a seguinte inscrição:

- Este é o louco de asas azuis. Cuidado!

Fiquei estupefato! Como aquele bêbado poderia saber o meu nome, ou endereço, ou que eu estaria no bar? Entrei em meu apartamento e escutei os recados que estavam na secretária eletônica, enquanto preparava um drinque. Apenas uma chamou minha atenção:

- Consegui despistá-lo, mas ele continua à solta. Cuidado com o louco de asas azuis!

Aquele acontecimento, que a princípio parecia hilário, começou a me aborrecer. Fui dormir e tive sonhos estranhos. Sonhei com borboletas azuis, pássaros azuis - e até pterodátilos azuis! - em um mundo branco. Tudo era branco, menos as aves, insetos e animais voadores, que eram azuis.
Acordei atrasado e tive que sair correndo. Levei uma bronca do chefe, mas por sorte ainda estava anestesiado pelo sono. A única coisa que me acordou foi uma - não - duas asas azuis. Era uma borboleta, da coleção que o chefe mantinha com carinho. Passei a manhã inteira com aquelas palavras na minha cabeça:

- louco, asas, cuidado, cuidado com o louco, azuis, asas azuis, louco azul, cuidado com as asas, cuidado com as asas do louco azul...

Saí do transe quando o telefone tocou:

- O louco, é você que ele quer! Cuidado com o louco de asas azuis!

Falei todos os palavrões que sabia e até inventei alguns.

À noite fui a outro bar, pensando que poderia ficar livre daquele homem que queria me deixar maluco.

Não demorou e ele apareceu. Sentou sem que eu percebesse e começou a falar no louco de asas azuis. Fui embora.

O assédio continuou durante uma semana, embora eu tenha ido a cada dia em um bar diferente. Certo dia, eu estava num bar e ele chegou, sentou-se sem que eu percebesse e disse:

- Acho que o louco de asas azuis desistiu, você está livre.

Foi quando ele se levantou que eu percebi que tinha asas, asas azuis! E é por isso que eu estou lhe dizendo:

- Cuidado, muito cuidado com o louco de asas azuis!

Sapão

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